sexta-feira, 15 de abril de 2016

Todo mundo tem um preço, só que o meu não é em dim!

Diante desta sexta-feira maravilhosa, aproximadamente às três da tarde, estávamos eu e um colega de trabalho conversando e, não sei como, chegamos no assunto no qual ele disse: "eu queria tanto que minha filha passasse logo num concurso, ganhasse o dinheiro dela, mas o negócio dela é fazer mestrado e doutorado..". Diante da minha visão de mundo, não sei nem contar quantas críticas poderia fazer desse comentário. 

Poderia criticar talvez a sua adesão a cultura do concurso público que faz com que nós, jovens, corramos atrás de um emprego público passando anos a fio memorizando assuntos que pouco nos servirá (até mesmo se passarmos no certame), para só então exercermos cargos pelos quais não temos paixão e assim passemos 40 anos de nossas vidas olhando o relógio esperando a hora de sair do local de trabalho (o que ocorria comigo quando começara a conversa do início do texto), em nome de estabilidade e uma boa remuneração. Enfim, uma cultura que faz milhões de jovens deixarem seus empregos e impede-os de dedicar a vida a algo que valha mais a pena do que aquele estudo decoreba e torna-os improdutivos. E o pior é saber que essa é a melhor opção para quem quer um emprego humano e digno, por isso também sou concurseiro, apesar de ferrenho crítico.
Poderia criticar o fato dele não valorizar o fato dele não valorizar o fato da filha querer estudar mais, dentre outros aspectos, mas me servirei dessa postagem para criticar outro aspecto: o fato dos pais sempre educarem e incentivarem o filho a buscar o dinheiro e, de forma geral, a busca desenfreada pelo capital. Resolvi citar a questão dos pais justo porque essa situação me lembra o meu! 

Diversas vezes me disse que deveria fazer concurso para delegado ou curso de formação de oficiais da policia militar, mesmo eu não gostando, porque dava dinheiro! Emicida responde muito bem essa questão: ' Todo mundo tem um preço, só que o meu não é em dim! '

Claro que quero ganhar melhor, ter uma vida digna custa dinheiro, mas esse não pode ser o objetivo da vida, senão viramos nada mais que um objeto de um sistema, viramos um produto! Temos que melhorar de vida, mas como meio para uma vida mais tranquila, mais confortável, para que haja dinheiro e espaço para nossos hobbies, mas não para comprarmos bens de alto valor! carros, roupas e etc. Vejo uma população que sempre que chega a uma situação econômica, aspira a uma melhor e nunca tem um limite para isso, além de, independentemente do salário, endividados. Hoje é técnico de um Tribunal, amanhã é Analista, depois quer ser Juiz.. vive a vida para alcançar os mais altos cargos, tudo por status e, consequentemente, terminam a ensinar os filhos a mesma coisa e, como acontece comigo, quando não se aprende a lição capitalista do consumismo e da busca por status, há uma pressão social, leia-se pressão dos pais, para que se seja como a massa. Acho que uma música do Seu Pereira ilustra bem a questão:

"Vamo sair pra ver o mar
Pra tomar banho de chuva
A vida é muito mais que o teu celular
Que a tua escova impecável"

Enfim, deixa pra lá eu devo tá viajando, enquanto eu falo besteira nêgo vai e matando.


sábado, 9 de abril de 2016

Sobre meritocracia

(imagem retirada da page http://desabafosocial.com.br/blog/2015/11/05/mito-meritocracia/)

Dia desses estava entediado, descendo a barra de rolagem do facebook sem objetivo algum, só procurando algo que me distraísse um pouco daquele momento de angústia. Nesse estrago de tempo, deparei-me por coincidência com um texto muito bom do site yogui sobre manipulação das massas (segue o link: http://yogui.co/10-estrategias-de-manipulacao-em-massa-utilizadas-diariamente-contra-voce/) e uma das estratégias me chamou atenção: reforçar a auto-culpabilidade. No dia não me venho ideia alguma sobre isso. Hoje, entretanto, a mente me trouxe a lembrança quando escutei um trecho da música Dias de Luta, Dias de Glória da banda Charlie Brown Jr:

Mas hoje dou valor de verdade pra minha saúde, pra minha liberdade '

Você deve tá pensando: e qual a relação de uma coisa com a outra? Vou tentar explicar, começando com o reforço a auto-culpabilidade. O reforço a auto-culpabilidade, falando de forma grosseira, é imputar a si mesmo independente da situação social, econômica, física e etc. a responsabilidade de não conseguir realizar conquistas na vida; de não conseguir sair da miséria. É se achar culpado por, trabalhando 12 horas diárias, cuidando de três filhos e uma mulher ou um marido, além de uma mãe doente, não conseguir passar num concurso. 

"É culpa sua, afinal, conforme aprendido no ensino básico, nossa sociedade possui mobilidade social. Não somos a Índia com seu sistema desumano de castas, que condenava os pobres a morrerem pobres, você tem como enriquecer nesse país, basta querer e correr atrás", diz a sociedade meritocrática. O resultado dessa ideia de meritocracia, de pessoas sempre dando seu máximo e não conseguindo alcançar objetivos grandiosos, utilizando muitas vezes todo seu tempo com uma finalidade "útil" (leia-se lucrativa) para alcançar ascensão social, uma vida melhor, e que acreditam que não alcançaram porque não estão "dando seu máximo", porque é fraco e tem que se esforçar mais é isso que vemos em nossa sociedade: um aumento crescente de usuários de remédios controlados para ansiedade, depressão e etc. pois se sentem culpados por estarem num domingo a noite descansando com a família; sentem que um fim de semana numa rede, tomando água de coco e brincando com os filhos é uma perda de tempo! E quando uma mãe só consegue ser mãe e não consegue trabalhar? "Fraca", diz a sociedade meritocrática E quando um pai de família que trabalha o dia inteiro não consegue ficar uma posição a frente  do garoto que estuda o dia inteiro pro concurso, o que diz a sociedade? "É culpa sua, não é o fato do garoto ter os melhores livros, os melhores cursos e tempo de sobra para estudar. Vocês são iguais e igualmente livres."

A auto-culpabilidade faz com que corramos cada vez mais, dando cada vez menos descanso ao corpo, deixando-nos mais doentes física e psicologicamente. Já alertou Nietzsche em seu livro Gaia Ciência:

"Tem-se agora vergonha do descanso; quase se experimentaria um remorso com a reflexão mais demorada. Pensa-se de relógio na mão, mesmo quando se está a almoçar, com um olho no correio da bolsa; vive-se permanentemente como alguém que tem medo de “perder” alguma coisa. “Mais vale agir do que não fazer nada”, eis ainda um desses princípios de carregar pela boca que correm o risco de vibrar o golpe de misericórdia a qualquer cultura, e qualquer gosto superior." 
(retirado do site: http://parandootempo.blogspot.com.br/2011/03/ocio-e-ociosidade-por-nietzsche.html)

Com a leitura desse trecho de Nietzsche reflito e me pergunto se nossas aspirações e ambições são realmente nossas, e não uma imposição do sistema. Se somos realmente livres. Para que preciso morrer de trabalhar para comprar um Iphone? para comprar 3 carros? Enfim, deixo isso para uma próxima postagem.

Ai, ai.. quantos Rivotril's seriam economizados com a leitura de um livro de filosofia..

domingo, 3 de abril de 2016

Sobre Nietzsche: Increscunt animi, virescit volnere virtus

Se o meu desejo de escrever deve a alguém a sua existência, esse alguém com certeza se chama Friedrich Wilhelm Nietzsche. Foram as ideias deste filósofo alemão que despertaram nos autores deste blog (Acacio da Costa e Jefferson do Rego) a paixão pela Filosofia, Literatura, Política e Direito (principais temas deste blog), além do desejo de escrever sobre esses temas.

Então nada mais justo que um post sobre um trecho utilizado em sua obra Crepúsculo dos Ídolos: "Increscunt animi, virescit volnere virtus" (esta frase é de autoria do poeta Fúrio de Âncio). Pesquisei e achei duas traduções para a referida frase: “Os espíritos crescem e a força viceja quando são feridos” ou "Os espíritos crescem e a virtude floresce, à medida que é ferida."

Possivelmente esta frase pode ser interpretadas de várias formas e ter vários sentidos, mas quero aqui associá-la a uma questão que percebo no dia-a-dia: as pessoas não querem mais aceitar a dor natural das coisas e querem que todos os momentos da vida sejam prazerosos. Não consegue perceber isso? vou dar exemplos: Cursos de inglês que prometem um aprendizado prazeroso, relacionamentos que acabam ao primeiro sinal de brigas, pessoas que não leem livros clássicos porque são difíceis de entender ou que desistem de um sonho pelo árduo caminho que têm de enfrentar para alcançá-lo.

O que eu quero dizer é que a dor é natural, que nunca haverá bônus sem ônus. Que nunca conheceremos o prazer de tocar um instrumento se não nos esforçarmos, se não passarmos noites a fio com os dedos nele de forma tediosa. Que se sempre ao primeiro sinal de tédio deixarmos o estudo e entrarmos no facebook, nunca teremos aquela profissão que desejamos.

O que Nietzsche diria sobre isso? que estas pessoas são fracas, que não tem força de se manter de pé diante do tédio. E, infelizmente, a maioria de nós é composta por fracos, pessoas que tinham inicialmente o sonho de se tornar juízes e se contentam em ser técnicos do Tribunal de Justiça e que encontram uma desculpa esfarrapada para se justificarem por terem desistido daquele sonho. Dizem eles que "é muita pressão, muita responsabilidade, desisti de ser juiz por isso, quero mais não" ou "constitui família e, com filhos, não tenho tempo de estudar" quando, na verdade, o que aconteceu foi que viram que teriam de passar várias horas por dia por vários anos estudando com ainda uma possibilidade de não conseguirem atingir aquele objetivo e que teriam de passar por diversas frustrações, diversos concursos sem êxito para, só então, talvez ser juiz um dia. Talvez nem mesmo o rapaz que constituiu família perceba, mas no fundo ele ficou feliz de ter tido aquele filho para se desculpar frente à sociedade por não ter seguido aquele sonho.

Acredito fortemente que isto seja culpa de uma sociedade que não dá valor à filosofia e grita em todas as mídias que temos de ser felizes o tempo todo e que tudo tem de ser prazeroso. Como diria o filósofo Pondé, vivemos numa "ditadura da felicidade", a qual de forma tragicômica está deixando a sociedade mais depressiva. Nunca se viu tanta gente rindo e "feliz" no mundo, mas também nunca se tomou tantos antidepressivos. Mas isso é tema para uma próxima postagem.

Meus nobres, assim encerro minha primeira postagem, não espero que tenham gostado, pois é sempre difícil gostar de um texto que nos chama de fraco, digo isso porque senti isso ao ler os textos de Nietzsche: me incomodaram. E é isso que espero que o texto tenha lhe feito: Incomodado. E, para incomodar mais um pouco, deixo um questionamento para reflexão: "Não estamos nós sempre procurando desculpas para o nosso fracasso?"

Deixo aqui um vídeo interessante do Clóvis de Barros Filho:

https://www.youtube.com/watch?v=Qj6mQSdBSGI


Obs: Este texto foi escrito inicialmente no blog sobremesadebar, o qual fiz com Jefferson e não deu muito certo. Estou repostando aqui.

Autor: Acacio da Costa
Coautor: Jefferson do Rego

Apresentação

Turma da Sarjeta é um blog na qual tento compilar tantos assuntos que surgem nas calçadas da vida com os meus amigos. Rola futebol, política, filosofia, Direito, concursos, piadas, inovações tecnológicas e, esporadicamente, outros assuntos. Detalhe é que, como em toda roda de amigos, todos sabem de tudo sem nunca terem estudado nada sobre os temas.

O que me motivou a escrever esse blog foi que, muitas vezes tenho algumas ideias e tenho vontade de compartilhá-las com meus pares. Além disso, é uma forma de extravasar.

Espero que gostem, mas se não gostarem continuarei escrevendo. (hahaha)